29 de julho de 2010

Tardes de inverno.

Os vidros da janela estavam embaçados. Através dela o vento fazia as árvores se contorcerem, quase dançantes sob o céu cinzento. Era julho e não era de se esperar outro cenário se não fosse este. Peguei meu casaco e saí. O frio estava cortante, sentia minhas bochechas queimarem, consequentemente deixando-as rosadas. Com as mãos no bolso, enfrentava o vento e tentava me equilibrar andando em linha reta. Realmente, eu gosto dessa sensação. Cheguei com dificuldade na praça, quase ao lado da minha casa. Naquela tarde de domingo, indiscutívelmente desértico. Ali sim, eu me sentia bem. Sozinha, eu podia ser eu mesma, sem fingimentos. Naquele lugar eu não precisava usar a máscara que cobria meus sentimentos todos os dias. Sentei em um dos bancos e respirei fundo. Lá era a minha tranquilidade nos dias em que as fugas eram necessárias. Dias, ultimamente insuportáveis. Nitidamente, podia se ver esses dias em meus olhos, as pessoas gritando, me fazendo abaixar a cabeça e lutar contra minhas lágrimas. Degustando de meus fracassos. Era visível. E todos fingiam não ver. De vez em outra, perguntavam em uma voz pacifica: " está tudo bem?" eu afirmava com a cabeça. Não queria incomodá-los, afinal, muitos já disseram ser insignificante o que sinto. Então procurei guardar apenas para mim. O som dos galhos se debatendo era confortável aos meus ouvidos. A paisagem em tons de laranja - cinzento. Uma escuridão levemente alegre. Se é que isso possa descrever as tardes de inverno. É duvidoso, milhares de vezes em minhas fugas de inverno, fiquei observando o céu. Tentei decifrar as cores e o modo que interagiam umas com as outras. Me decepcionei a não chegar numa conclusão concreta. Apenas sei que as tardes são calmas, me levam ao paraíso em dias escuros. Desde sempre, a minha única conformidade em relação a vida.